Areias ao vento.

Tarde de domingo.O mês? Maio talvez. Sentado na praia, costas escoradas na guarita do salva-vidas.Vazando por entre os dedos a areia branca e fria.Relógio do tempo que marca, lentamente, o compasso da vida.Grãos que caem e voam com o vento. Para onde? Quem sabe!Encontram-se em outros mundos, outras dimensões, outros tempos, outros...

De repente olho em direção ao mar. Vejo uma tartaruga saindo d'água. Vagarosamente ela se dirige à areia mais solta próximo a mim e começa a cavar. Novamente os grãos de areia voam com o vento rumo ao desconhecido. Em poucos minutos me encontro cercado por tartarugas que transformam a praia em um balé de névoa arenosa e fria.Cavam por muito tempo.Incansáveis, persistentes e esperançosas. Depois de prontos os buracos, posicionam-se e começam a colocar seus ovos. Um a um. Mais uma vez, o difícil trabalho não as abate, mas me dou conta de que elas não estão na praia certa e nem na época correta para a desova. Tento avisá-las, mas a comunicação é impossível. Eu digo: -não é aqui, não é agora! No entanto elas continuam se trabalho. Mas...e se for eu quem estou fora do meu tempo e espaço?E se, tal qual um grão de areia fui arremessado pelo vento?

Ainda tomado pelos meus devaneios, percebo as tartarugas se afastando exaustas mas felizes. Com um sopro mais forte e gelado de vento, acordo e abro meus olhos. Busco ao meu redor vestígios de outras presenças, mas nada. Nenhum balé, nenhuma cova ou monte de areia.Nem rastros. A praia vazia e gelada como antes. Aquela lufada de vento me trouxe de volta. Compreendo a mensagem. Sou como um grão de areia jogado  ao vento, mas o renascimento,o despertar para a vida não exige tempo ou espaço determinados, bem como...

Levanto, vou até a areia mais fofa. Cavo um buraco bem fundo. Enterro o frasco com vários comprimidos e volto para casa. Não é aqui!Não é agora!                                                                                                                                                  By Rose Matte